terça-feira, 22 de março de 2016

“De cima para baixo” não funciona na administração pública

                Além da clássica diferença entre administração pública e privada, em que na primeira o gestor apenas pode fazer aquilo que está previsto em lei e que na segunda o gestor pode fazer tudo aquilo que a lei não proíbe, é importante ressaltar que a forma de aplicação das ferramentas de mudança organizacional também é diferente. Na administração pública, as mudanças realizadas de cima para baixo são desastrosas. A elaboração de decretos, portarias e leis sem a participação de duas partes interessadas fundamentais, servidores e sociedade, está fadada ao fracasso.

                Muito se fala que administrar o setor público é o mesmo que administrar uma casa ou uma empresa. Isto não é verdade! Muitos gestores públicos apenas dizem isto para simplificar o entendimento da opinião pública sobre cortes de gastos e aumento na arrecadação. Muitos dos gastos do governo estão atrelados a leis específicas e não há grandes manobras para mudança. Isto em função de leis previdenciárias, de assistência social, saúde, educação, etc. Seria como dizer para uma dona de casa, corte os gastos, mas, por lei, não pode mexer no orçamento de alimentação, plano de saúde e na mensalidade da escola de seus filhos.

                 Para que reformas funcionem no setor público, quanto maior a participação de servidores e sociedade melhor. Um exemplo disto é a reforma da previdência. Lógico que o sistema previdenciário brasileiro necessita de reformas urgentes, mas isto não será atingido com uma “canetada”. Um plano de consenso com a sociedade e servidores é a melhor alternativa para que esta mudança ocorra sem a necessidade de recorrer aos tradicionais mecanismos de clientelismo entre o executivo e o legislativo (aliás, a população já não aguenta mais isto). Ou seja, antes de anunciar propostas “de cima para baixo” em uma eventual mudança previdenciária, um ciclo de debates com a sociedade e servidores é essencial para amadurecer as sugestões de ajustes.


                Verdadeiros gestores públicos que sabem mediar o debate e buscam consenso para mudança no Estado em torno de propostas técnicas bem fundamentadas serão sempre os mais bem sucedidos. Esses gestores participam ativamente desses debates, trazendo ideias e fundamentando seus argumentos. Os gestores de gabinete, ao contrário, pensam que sabem mais e que não precisam gastar seu tempo com discussões desnecessárias. Entretanto, ao final de sua gestão, acabam reféns de suas próprias armadilhas sem deixar qualquer legado.

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