Além da
clássica diferença entre administração pública e privada, em que na primeira o
gestor apenas pode fazer aquilo que está previsto em lei e que na segunda o
gestor pode fazer tudo aquilo que a lei não proíbe, é importante ressaltar que
a forma de aplicação das ferramentas de mudança organizacional também é
diferente. Na administração pública, as mudanças realizadas de cima para baixo
são desastrosas. A elaboração de decretos, portarias e leis sem a participação
de duas partes interessadas fundamentais, servidores e sociedade, está fadada
ao fracasso.
Muito
se fala que administrar o setor público é o mesmo que administrar uma casa ou
uma empresa. Isto não é verdade! Muitos gestores públicos apenas dizem isto
para simplificar o entendimento da opinião pública sobre cortes de gastos e
aumento na arrecadação. Muitos dos gastos do governo estão atrelados a leis
específicas e não há grandes manobras para mudança. Isto em função de leis
previdenciárias, de assistência social, saúde, educação, etc. Seria como dizer
para uma dona de casa, corte os gastos, mas, por lei, não pode mexer no
orçamento de alimentação, plano de saúde e na mensalidade da escola de seus
filhos.
Para que reformas funcionem no setor público,
quanto maior a participação de servidores e sociedade melhor. Um exemplo disto
é a reforma da previdência. Lógico que o sistema previdenciário brasileiro
necessita de reformas urgentes, mas isto não será atingido com uma “canetada”.
Um plano de consenso com a sociedade e servidores é a melhor alternativa para
que esta mudança ocorra sem a necessidade de recorrer aos tradicionais
mecanismos de clientelismo entre o executivo e o legislativo (aliás, a
população já não aguenta mais isto). Ou seja, antes de anunciar propostas “de
cima para baixo” em uma eventual mudança previdenciária, um ciclo de debates
com a sociedade e servidores é essencial para amadurecer as sugestões de
ajustes.
Verdadeiros
gestores públicos que sabem mediar o debate e buscam consenso para mudança no
Estado em torno de propostas técnicas bem fundamentadas serão sempre os mais
bem sucedidos. Esses gestores participam ativamente desses debates, trazendo ideias
e fundamentando seus argumentos. Os gestores de gabinete, ao contrário, pensam
que sabem mais e que não precisam gastar seu tempo com discussões desnecessárias.
Entretanto, ao final de sua gestão, acabam reféns de suas próprias armadilhas
sem deixar qualquer legado.
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