quarta-feira, 29 de junho de 2016

Não há problema que não possa ser superado, nem tampouco sucessos que durem para sempre

            Assim como em nossa vida pessoal, as organizações devem ter sempre em mente seus pontos fortes e fracos e compreender bem as ameaças e oportunidades que o ambiente as oferece. Caso contrário, não há como se preparar para futuros desafios e cobrir as deficiências profissionais do presente. A ferramenta SWOT (em inglês traduzida como Strengths, Weaknesses, Opportunities, and Threats) oferece a oportunidade para que uma organização, ou até mesmo um indivíduo, comece um planejamento futuro com o pé direito. Ou seja, é o primeiro passo para a definição de estratégias claras e diretamente relacionadas com os problemas que devem ser enfrentados pelas instituições.

            Não há problema que não possa ser superado, nem tampouco sucessos que durem para sempre. Este deve ser o lema de quem utiliza a análise SWOT para seu planejamento organizacional ou de carreira. No entanto, em muitos casos, organizações perturbam-se tanto com seus problemas rotineiros ou, do outro lado, se sentem tão acomodadas com seu sucesso organizacional que preferem deixar de lado o uso deste tipo de ferramenta estratégica. Parecem acreditar que tudo se resolverá com o tempo ou que o sucesso será mantido por um longo período. Além disto, os problemas e avanços organizacionais parecem estar acima de qualquer análise lógica ou mais simples da realidade.

             A análise SWOT se utiliza de uma simples matriz 2x2, onde a primeira linha determina que de um lado os pontos fortes e de outro os pontos fracos da organização. A segunda linha apresenta de um lado (logo abaixo dos pontos fortes), as oportunidades, e do outro (logo abaixo dos pontos fracos), as ameaças exógenas. A lista destes quatro itens será mais bem definida com a participação ativa de todos aqueles que, de alguma maneira, terão que agir estrategicamente para o fortalecimento organizacional e o cumprimento de metas que serão estabelecidas. Neste caso, o melhor é deixar que todos possam preencher, individualmente, todo o quadro para que depois uma lista consolidada possa ser derivada de um consenso da equipe.

            O produto final deste exercício será uma lista que contribuirá para a priorização de esforços conjuntos, traduzidos por objetivos específicos, estratégias e metas organizacionais a serem desenvolvidos durante um ciclo determinado de tempo. Os próprios membros da equipe que participaram do estabelecimento dos principais itens da análise SWOT deverão também ser escolhidos para a coordenação da execução dos novos objetivos organizacionais e gerência de suas respectivas estratégias e metas. Talvez, durante a execução dos trabalhos, as metas não sejam alcançadas da forma exata com que o planejamento foi elaborado, mas o esforço de planejamento não será em vão.


            Peter Drucker, considerado por muitos o “pai” do conceito de gerenciamento estratégico, gostava de falar da importância do “controle pessoal a partir de práticas de mensuração e estabelecimento de metas”. A análise SWOT oferece exatamente esta plataforma, reduzindo os conflitos internos, pois os objetivos se tornam os principais motivos de um trabalho eficaz. Tudo isto reduz o sentimento de concorrência interpessoal nas organizações sociais e fortalece o posicionamento organização perante os grandes desafios da humanidade: pobreza, destruição do meio ambiente, pandemias e falta de ética. 

terça-feira, 14 de junho de 2016

Como se estabelecem as determinantes sociais

            Vendo alguns líderes políticos se posicionarem na TV sobre casos de violência, alguns mencionam a baixa escolaridade da população como a principal razão desses acontecimentos. Outros especialistas indicaram problemas econômicos, como os baixos salários de policiais e níveis altos de desemprego. Isto sem falar dos religiosos que insistem em dizer que a principal razão é a falta de fé.

            Tenho que admitir que respeito todas estas diferentes visões de políticos, especialistas e membros da comunidade (religiosa ou não). No entanto, como podemos determinar a participação real de todos estes fatores em relação a um problema social com atos de violência? A única maneira é a aplicação de pesquisas sociais e desenvolvimento de modelos analíticos que possam demonstrar esta associação ou relação explanatória. Com o advento da revolução computacional, há ferramentas estatísticas que podem estabelecer esta relação de forma quantitativa. Ou seja, podemos afirmar a partir de uma margem de erro específica (assim como acontece em pesquisas de intenção de voto) que algumas variáveis são verdadeiramente determinantes para uma disfunção social.

            Por exemplo, qual a participação de variáveis relacionadas à educação, como nível de escolaridade, repetição de série, falta de estímulo escolar, entre outras para uma variação maior ou menor nos níveis de prevalência e incidência de violência entre jovens de 18 e 24 anos? Com o uso de modelos de regressão estatística, dependendo de correlações específicas, pode-se chegar à conclusão de que estas variáveis explicam 0%, 10% ou 20% da variação das taxas de prevalência e incidência de atos de violência. Esta estatística é conhecida como R2 no mundo científico. Sendo assim, caso expliquem menos do que outros fatores, como variáveis relacionadas a dificuldades psicossociais e normativas, logicamente, o uso de recursos será mais bem aplicado em tecnologias sociais que foquem estas outras variáveis.

            O Brasil desenvolve diversos projetos de pesquisa com reconhecimento internacional. No caso do setor de saúde, por exemplo, somente o Brasil e Cuba conseguem investir aproximadamente 3% de todo o recurso destinado a saúde para pesquisa, entre os países não desenvolvidos. No entanto, muito destes recursos são destinados para pesquisas biomédicas. Ou seja, as pesquisas comportamentais, de políticas públicas e sociais recebem pouca atenção dos gestores públicos. Esta atenção é ainda menor no caso de empresas e ONGs que investem e atuam na área social. As poucas pesquisas nesta área se limitam a demonstrar a dimensão do problema, mas não os fatores determinantes.


            Duas exceções empresariais devem ser apontadas como futuras referências nesta área: Durex (empresa da Inglaterra) e Caixa Seguradora (empresa brasileira). No caso da Durex, pesquisas de determinantes foram realizadas em diversos países do mundo sobre questões ligadas a sexualidade, como no caso de relações sexuais sem proteção. No caso da Caixa Seguradora, uma pesquisa foi realizada para a identificação das principais determinantes de atos de violência física entre jovens de 18 a 24 anos do Distrito Federal. A promoção destas experiências poderá dar vazão ao início de um novo ciclo de intervenções sociais, guiadas e fundamentadas pela ciência e não somente pela intuição evasiva de diversos líderes.

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Por que o Brasil está abrindo a Caixa de Pandora?

                Dentro do sistema político de relações sórdidas entre os setores público e privado, todos os países do mundo possuem uma Caixa de Pandora. Como na mitologia grega, a Caixa é um jarro onde estão depositados todos os males que podem existir. Na história contemporânea, estes males estão representados pela corrupção, mentiras, quadrilhas, conchavos e tantos outros. Não seria difícil demonstrar que sociedades na maioria dos países são vítimas de todos estes males em maior ou menor grau.

                No entanto, estas mesmas sociedades têm receio de que a abertura da Caixa de Pandora possa trazer desarranjos econômicos e sociais. E, elas estão certas! É exatamente o que isto acontece quando a Caixa de Pandora de um país é aberta. Talvez, isto explique porque raramente uma sociedade está disposta a abrir o jarro. Até porque a história nos ensina que o jarro geralmente é aberto durante revoluções ou guerras civis. Ou seja, a desordem socioeconômica pode ser completa. Raramente, abre-se o jarro seguindo a ordem legal e democrática.

                Não precisamos ir muito longe para descobrir que estes males estão presentes em sistemas mais autoritários e nos mais democráticos. O que acontece no sistema político chinês não é muito diferente do que acontece no sistema político estadunidense. Isto mesmo que tentemos relativizar algumas das suas práticas nefastas. Ou seja, tentar dizer que em um país estas práticas são mais frequentes do que em outro.

                O movimento que foi às ruas em 2013, o Ministério Público, nosso sistema judiciário e a própria deterioração das chamadas “coalizões governamentais” proporcionaram as condições ideais para que a Caixa começasse a se abrir. E, parece que não tem mais volta. Se o Brasil conseguir ir até o fim, assimilar as consequências socioeconômicas desta decisão e não deixar que haja ruptura institucional, estaremos estabelecendo um novo parâmetro de renovação democrática quase sem precedentes na história.

                Não devemos nos preocupar com que o mundo está pensando sobre o Brasil ou se o Brasil deixou de ser um país “atrativo” para novos investimentos. Segundo a mitologia, após a saída de todos os males da famosa Caixa de Pandora, somente fica a “esperança”. Esta nunca morre e nos renovará.