Há
algum tempo, no Brasil, o social se restringia a questões relacionadas à
miséria, fome e doenças transmissíveis. Os avanços alcançados nessas áreas
foram impressionantes. Temos sempre que reconhecer o valor das novas políticas
públicas e sociais que deram à população brasileira oportunidades de participar
das riquezas econômicas do país e buscar seus direitos de cidadão. Estamos
muito longe da utopia de uma sociedade igualitária, mas bem perto de números
que comprovam que os avanços foram significativos: 1) o Brasil saiu do mapa da
fome da ONU; 2) conquistas significativas foram alcançadas para reduzir a mortalidade
infantil; 3) milhões de brasileiros saíram da miséria.
Tudo
isto é bem oportuno se levarmos em consideração os desafios que os
profissionais da área pública (não necessariamente governamental) terão que
enfrentar nas próximas décadas. São desafios de dimensões catastróficas se a
atuação dos agentes públicos (não necessariamente governamental) não for
rápida, estratégica e sustentável. As transições demográfica, epidemiológica e
climática estão alterando rapidamente o cotidiano dos indivíduos, famílias,
comunidades, cidades e país.
Não
há mais como negar o aumento significativo de idosos em relação ao número de
crianças do Brasil. Estamos envelhecendo e muito rapidamente. Parece até o
movimento de urbanização dos anos 70 que alterou em definitivo a composição de
nossa sociedade. Esta transição fará com que o sistema de previdência tenha que
ser revisto, assim como as relações econômicas, pois os mais jovens não
conseguirão criar as riquezas necessárias para sustentar a qualidade de vida
para todos os idosos.
Estamos
vivendo mais, mas não necessariamente melhor. A incidência de doenças crônicas
aumenta na mesma medida em que as doenças transmissíveis diminuem. Logicamente,
ainda teremos que conviver com doenças transmissíveis como Zika, Dengue, H1N1,
tuberculose. No entanto, nada se compara ao aumento das doenças crônicas como diabetes,
doenças do sistema circulatório, obesidade, causas externas.
Há
também a transição climática. Em todas as cidades, já se verifica o aumento das
temperaturas, a mudança da estação de chuvas e seca, aumento de fenômenos
climáticos. O Brasil que parecia ser imune a este tipo de fenômeno, hoje
convive com ciclones e tufões. Isto sem falar da poluição que mata milhares de
pessoas todos os anos e as queimadas que intensificam as doenças respiratórias,
principalmente as crianças.
Temos
que rever nosso conceito de social e público. Os sistemas de saúde,
previdência, educação, meio-ambiente e assistência social estão em perigo. A
proposta desastrosa de privatização para enfrentar estes desafios sociais e
públicos e outra que foca apenas na participação governamental já foram implementadas
nos países desenvolvidos. Não podemos seguir este mesmo modelo. O custo de
saúde nos Estados Unidos já representa mais de 17% do PIB do país e não é
sustentável. Ao mesmo tempo, os sistemas puramente governamentais da Europa e
Japão de previdência não conseguem mais assimilar o ritmo frenético de
envelhecimento e a baixíssima taxa de fertilidade.
Qual
seria então a alternativa? Nas próximas postagens algumas sugestões.
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