Há alguns anos, durante o lançamento
de uma pesquisa sobre determinantes de violência entre os jovens do Distrito
Federal patrocinada pela Caixa Seguradora, tive a grata oportunidade de
conversar com um de nossos maiores atletas: o meio-fundista Hudson de Souza.
Sendo uma de nossas maiores esperanças para os jogos panamericanos na época,
perguntei qual seria o principal fator que leva um atleta a ser um grande
campeão. Com sua humildade característica, ele me respondeu: determinação!
Fiquei impressionado com sua
resposta rápida e clara e acabei descobrindo que na área social temos muito a
aprender com o esporte. Todo atleta que deseja obter resultados significativos
precisa estudar bem suas provas, modificar seus comportamentos e aplicar
conhecimento e novas técnicas a suas práticas esportivas. Tudo isto para
diminuir, muitas vezes, em segundos o término de uma prova e bater seus
próprios recordes. Sabe que completar uma prova em zero segundo seria
impossível, mas é a busca do impossível que os faz chegar cada vez mais perto
de marcas impressionantes para um ser humano. Um atleta de rendimento simplesmente não sai correndo como louco sem qualquer estratégia ou avaliação do seu rendimento.
Podemos aprender muitas lições com este tipo
de postura na área social. Sabemos que muitas taxas de problemas sociais, como
violência, repetência e abuso sexual, talvez nunca cheguem a zero por cento. No
entanto, podemos identificar quais são os fatores que levam a uma diminuição
destas taxas. Por exemplo, no caso de mortalidade infantil, sabemos que a
desnutrição é a maior causa para um aumento desta triste taxa. Além disto,
temos outros fatores como falta de envolvimento dos pais, falta de atendimento
pré-natal, etc. Ou seja, trabalhando bem estas determinantes, diversos países
já demonstraram que é possível a redução da taxa e bater recordes de
sobrevivência infantil. Pesquisadores de todo o mundo apontam estes
fatores e os gestores sociais de "rendimento" implementam os programas nas
comunidades.
Sendo assim, pobre do gestor social
(incluindo empresas, governos e ONGs) que não se utiliza da ciência para
estabelecer e adquirir o conhecimento sobre as determinantes dos problemas
sociais. Pensa que sabe praticar este “esporte”, mas não passa de um atleta
amador de final de semana. Pode até se sentir bem individualmente pela tal prática,
mas não contribui em nada para que seu país consiga atingir marcas
significativas de desenvolvimento social. Não está disposto a fazer sacrifícios
reais pela melhoria do rendimento escolar de suas comunidades, pela redução das
taxas de violência e diminuição da pobreza.
Hoje, mais do que nunca, nosso país
precisa de recordes e rendimento social. Precisamos acabar com as taxas de
analfabetismo que trazem tanta vergonha para nossos cidadãos. Precisamos
reduzir as taxas de violência entre jovens que causam quase 70% das fatalidades
na população entre 18 e 24 anos. Precisamos nos esforçar, ainda mais, para
reduzir as taxas de transmissão do HIV/AIDS e erradicar focos de epidemias de
doenças tropicais (malaria, dengue, zica, etc.).
E, foi assim, ao final do evento que
me despedi do Hudson dizendo: vou ficar na torcida para que você traga muitas
medalhas para nosso país durante os jogos panamericanos. E, ele me respondeu
com um singelo sorriso no rosto: eu também vou ficar na torcida para que as
empresas tragam mudanças significativas para nossas comunidades e país durante
a implementação de seus programas sociais.
Obrigado, Hudson, pela lição!
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