terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Esporte de rendimento é ciência, desenvolvimento social também deveria ser

            Há alguns anos, durante o lançamento de uma pesquisa sobre determinantes de violência entre os jovens do Distrito Federal patrocinada pela Caixa Seguradora, tive a grata oportunidade de conversar com um de nossos maiores atletas: o meio-fundista Hudson de Souza. Sendo uma de nossas maiores esperanças para os jogos panamericanos na época, perguntei qual seria o principal fator que leva um atleta a ser um grande campeão. Com sua humildade característica, ele me respondeu: determinação!

            Fiquei impressionado com sua resposta rápida e clara e acabei descobrindo que na área social temos muito a aprender com o esporte. Todo atleta que deseja obter resultados significativos precisa estudar bem suas provas, modificar seus comportamentos e aplicar conhecimento e novas técnicas a suas práticas esportivas. Tudo isto para diminuir, muitas vezes, em segundos o término de uma prova e bater seus próprios recordes. Sabe que completar uma prova em zero segundo seria impossível, mas é a busca do impossível que os faz chegar cada vez mais perto de marcas impressionantes para um ser humano. Um atleta de rendimento simplesmente não sai correndo como louco sem qualquer estratégia ou avaliação do seu rendimento.

             Podemos aprender muitas lições com este tipo de postura na área social. Sabemos que muitas taxas de problemas sociais, como violência, repetência e abuso sexual, talvez nunca cheguem a zero por cento. No entanto, podemos identificar quais são os fatores que levam a uma diminuição destas taxas. Por exemplo, no caso de mortalidade infantil, sabemos que a desnutrição é a maior causa para um aumento desta triste taxa. Além disto, temos outros fatores como falta de envolvimento dos pais, falta de atendimento pré-natal, etc. Ou seja, trabalhando bem estas determinantes, diversos países já demonstraram que é possível a redução da taxa e bater recordes de sobrevivência infantil. Pesquisadores de todo o mundo apontam estes fatores e os gestores sociais de "rendimento" implementam os programas nas comunidades.

            Sendo assim, pobre do gestor social (incluindo empresas, governos e ONGs) que não se utiliza da ciência para estabelecer e adquirir o conhecimento sobre as determinantes dos problemas sociais. Pensa que sabe praticar este “esporte”, mas não passa de um atleta amador de final de semana. Pode até se sentir bem individualmente pela tal prática, mas não contribui em nada para que seu país consiga atingir marcas significativas de desenvolvimento social. Não está disposto a fazer sacrifícios reais pela melhoria do rendimento escolar de suas comunidades, pela redução das taxas de violência e diminuição da pobreza.

            Hoje, mais do que nunca, nosso país precisa de recordes e rendimento social. Precisamos acabar com as taxas de analfabetismo que trazem tanta vergonha para nossos cidadãos. Precisamos reduzir as taxas de violência entre jovens que causam quase 70% das fatalidades na população entre 18 e 24 anos. Precisamos nos esforçar, ainda mais, para reduzir as taxas de transmissão do HIV/AIDS e erradicar focos de epidemias de doenças tropicais (malaria, dengue, zica, etc.).

            E, foi assim, ao final do evento que me despedi do Hudson dizendo: vou ficar na torcida para que você traga muitas medalhas para nosso país durante os jogos panamericanos. E, ele me respondeu com um singelo sorriso no rosto: eu também vou ficar na torcida para que as empresas tragam mudanças significativas para nossas comunidades e país durante a implementação de seus programas sociais.


            Obrigado, Hudson, pela lição!

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