terça-feira, 14 de junho de 2016

Como se estabelecem as determinantes sociais

            Vendo alguns líderes políticos se posicionarem na TV sobre casos de violência, alguns mencionam a baixa escolaridade da população como a principal razão desses acontecimentos. Outros especialistas indicaram problemas econômicos, como os baixos salários de policiais e níveis altos de desemprego. Isto sem falar dos religiosos que insistem em dizer que a principal razão é a falta de fé.

            Tenho que admitir que respeito todas estas diferentes visões de políticos, especialistas e membros da comunidade (religiosa ou não). No entanto, como podemos determinar a participação real de todos estes fatores em relação a um problema social com atos de violência? A única maneira é a aplicação de pesquisas sociais e desenvolvimento de modelos analíticos que possam demonstrar esta associação ou relação explanatória. Com o advento da revolução computacional, há ferramentas estatísticas que podem estabelecer esta relação de forma quantitativa. Ou seja, podemos afirmar a partir de uma margem de erro específica (assim como acontece em pesquisas de intenção de voto) que algumas variáveis são verdadeiramente determinantes para uma disfunção social.

            Por exemplo, qual a participação de variáveis relacionadas à educação, como nível de escolaridade, repetição de série, falta de estímulo escolar, entre outras para uma variação maior ou menor nos níveis de prevalência e incidência de violência entre jovens de 18 e 24 anos? Com o uso de modelos de regressão estatística, dependendo de correlações específicas, pode-se chegar à conclusão de que estas variáveis explicam 0%, 10% ou 20% da variação das taxas de prevalência e incidência de atos de violência. Esta estatística é conhecida como R2 no mundo científico. Sendo assim, caso expliquem menos do que outros fatores, como variáveis relacionadas a dificuldades psicossociais e normativas, logicamente, o uso de recursos será mais bem aplicado em tecnologias sociais que foquem estas outras variáveis.

            O Brasil desenvolve diversos projetos de pesquisa com reconhecimento internacional. No caso do setor de saúde, por exemplo, somente o Brasil e Cuba conseguem investir aproximadamente 3% de todo o recurso destinado a saúde para pesquisa, entre os países não desenvolvidos. No entanto, muito destes recursos são destinados para pesquisas biomédicas. Ou seja, as pesquisas comportamentais, de políticas públicas e sociais recebem pouca atenção dos gestores públicos. Esta atenção é ainda menor no caso de empresas e ONGs que investem e atuam na área social. As poucas pesquisas nesta área se limitam a demonstrar a dimensão do problema, mas não os fatores determinantes.


            Duas exceções empresariais devem ser apontadas como futuras referências nesta área: Durex (empresa da Inglaterra) e Caixa Seguradora (empresa brasileira). No caso da Durex, pesquisas de determinantes foram realizadas em diversos países do mundo sobre questões ligadas a sexualidade, como no caso de relações sexuais sem proteção. No caso da Caixa Seguradora, uma pesquisa foi realizada para a identificação das principais determinantes de atos de violência física entre jovens de 18 a 24 anos do Distrito Federal. A promoção destas experiências poderá dar vazão ao início de um novo ciclo de intervenções sociais, guiadas e fundamentadas pela ciência e não somente pela intuição evasiva de diversos líderes.

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