Vendo alguns líderes políticos se
posicionarem na TV sobre casos de violência, alguns mencionam a baixa
escolaridade da população como a principal razão desses acontecimentos. Outros
especialistas indicaram problemas econômicos, como os baixos salários de
policiais e níveis altos de desemprego. Isto sem falar dos religiosos que
insistem em dizer que a principal razão é a falta de fé.
Tenho que admitir que respeito todas
estas diferentes visões de políticos, especialistas e membros da comunidade
(religiosa ou não). No entanto, como podemos determinar a participação real de
todos estes fatores em relação a um problema social com atos de violência? A
única maneira é a aplicação de pesquisas sociais e desenvolvimento de modelos
analíticos que possam demonstrar esta associação ou relação explanatória. Com o
advento da revolução computacional, há ferramentas estatísticas que podem
estabelecer esta relação de forma quantitativa. Ou seja, podemos afirmar a
partir de uma margem de erro específica (assim como acontece em pesquisas de
intenção de voto) que algumas variáveis são verdadeiramente determinantes para
uma disfunção social.
Por exemplo, qual a participação de
variáveis relacionadas à educação, como nível de escolaridade, repetição de
série, falta de estímulo escolar, entre outras para uma variação maior ou menor
nos níveis de prevalência e incidência de violência entre jovens de 18 e 24
anos? Com o uso de modelos de regressão estatística, dependendo de correlações
específicas, pode-se chegar à conclusão de que estas variáveis explicam 0%, 10%
ou 20% da variação das taxas de prevalência e incidência de atos de violência.
Esta estatística é conhecida como R2 no mundo científico. Sendo assim, caso
expliquem menos do que outros fatores, como variáveis relacionadas a
dificuldades psicossociais e normativas, logicamente, o uso de recursos será mais
bem aplicado em tecnologias sociais que foquem estas outras variáveis.
O Brasil desenvolve diversos
projetos de pesquisa com reconhecimento internacional. No caso do setor de
saúde, por exemplo, somente o Brasil e Cuba conseguem investir aproximadamente
3% de todo o recurso destinado a saúde para pesquisa, entre os países não
desenvolvidos. No entanto, muito destes recursos são destinados para pesquisas
biomédicas. Ou seja, as pesquisas comportamentais, de políticas públicas e
sociais recebem pouca atenção dos gestores públicos. Esta atenção é ainda menor
no caso de empresas e ONGs que investem e atuam na área social. As poucas
pesquisas nesta área se limitam a demonstrar a dimensão do problema, mas não os
fatores determinantes.
Duas exceções empresariais devem ser
apontadas como futuras referências nesta área: Durex (empresa da Inglaterra) e
Caixa Seguradora (empresa brasileira). No caso da Durex, pesquisas de
determinantes foram realizadas em diversos países do mundo sobre questões
ligadas a sexualidade, como no caso de relações sexuais sem proteção. No caso
da Caixa Seguradora, uma pesquisa foi realizada para a identificação das
principais determinantes de atos de violência física entre jovens de 18 a 24
anos do Distrito Federal. A promoção destas experiências poderá dar vazão ao
início de um novo ciclo de intervenções sociais, guiadas e fundamentadas pela ciência
e não somente pela intuição evasiva de diversos líderes.
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