segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Riqueza Social não está associada a Riqueza Econômica

Foi em uma sala de aula, durante meu mestrado nos Estados Unidos, que fui surpreendido por uma pergunta de uma colega ao professor de políticas sociais na América Latina: "Professor como o Brasil e a Itália conseguem crescer economicamente?" A pergunta, cheia de significados, trouxe um silêncio incômodo a sala de aula e uma hesitação natural ao professor. Não sei exatamente se minha colega se referia aos sérios problemas políticos que os dois países enfrentam, com tanta corrupção, desorganização governamental e os tradicionais jogos de interesse. Ou se a pergunta era mais profunda, se referindo a questões culturais, sociais e educacionais. De qualquer modo, em questões sociais e culturais, a Itália é bem mais avançada que o Brasil, levando em consideração os níveis educacionais, a riqueza de seu capital social, principalmente nas pequenas cidades e vilarejos e uma expectativa de vida relativamente alta se comparada aos países desenvolvidos. No caso do Brasil, essas considerações simplesmente não se aplicam. Temos um dos piores níveis educacionais do planeta, a cultura do jeitinho e do individualismo consumista nunca esteve tão latente e nossa expectativa de vida é ainda muito baixa se compararmos a países desenvolvidos, principalmente entre os homens.

A pergunta é intrigante; no entanto, as determinantes são bem distintas. No caso italiano, as questões políticas são extremamente problemáticas, mas no caso brasileiro, não há como negar nossa pobreza social. A pobreza social se reflete, principalmente, nos comportamentos e atitudes do dia a dia. Diversas questões sociais nos acometem dentro e fora de casa. O desrespeito as normas de trânsito, a falta de educação em uma fila qualquer, um consumo desenfreado que beira a obsessão, são todos reflexos de nosso empobrecimento social.

Porém, o Brasil continua crescendo, como isso é possível? Creio que por um motivo simples, a riqueza social não está associada a riqueza econômica. Isso é principalmente verdade se levarmos em consideração que a educação é pouco valorizada no Brasil como forma de ascensão econômica. Muitos comportamentos anti-sociais são entendidos até como necessários para que essa ascensão ocorra, como o consumo pelo consumo, a corrupção, o "forçar vendas" e oferecer o mínimo para tentar ganhar o máximo, seja em forma de trabalho ou produto. Comportamentos sociais podem ser considerados ainda "perda de tempo" para um grande número de pessoas. Por que esperar uma vaga em estacionamento público, se posso parar em cima da calçada? Por que interagir e conversar mais com os filhos, se posso usar meu tempo de forma mais prazerosa bebendo com os amigos?

É interessante observar que o Brasil vem criando mecanismos para a geração de riqueza econômica, mas ainda temos dificuldades para estabelecer mecanismos em nossas rotinas para a geração de riqueza social. Ou seja, na verdade, vivemos uma realidade onde a riqueza social é vista até como um empecilho para a geração de mais riqueza econômica. Tempo "gasto" em leitura, arte, lazer e convivência é prejuízo certo na busca pelo "ganho" em vendas, produção, competição e renda. No entanto, o preço de nosso empobrecimento social é alto, pois mesmo não participando de grandes conflitos internacionais, o Brasil registra as maiores taxas de mortalidade entre jovens do mundo. Segundo o Ibge, já temos mais de sete milhões de mulheres a mais do que homens na faixa etária entre 30 e 50 anos.

Além disso, o governo e o setor empresarial ainda se concentram em formas da geração de riquezas econômicas. Vemos isso nos noticiários todos os dias, com a política monetária, cambial, de comércio exterior e trabalho e emprego. No entanto, onde estão as políticas sociais? Parece até que após a aprovação de leis orgânicas e estatutos sociais não há mais motivos para se falar de políticas sociais, pois todos os direitos já estão garantidos pela lei!! Será que isso é verdade? Precisamos de sistemas de acompanhamento de nossa inflação social, das taxas de mortalidade e de nossa crescente ansiedade e estresse.


Enfim, a melhor forma de responder a esse inteligente questionamento sobre como o Brasil vem se enriquecendo economicamente é demonstrar como tudo isso tem sido alcançado a um custo social e ambiental elevado. Ou seja, não é a riqueza social, cultural e educacional que tem sustentado esse crescimento. Isso porque o modelo econômico de crescimento está focado no consumo de bens materiais. Sendo assim, meu questionamento seria um pouco diferente: como o Brasil planeja sustentar esse modelo de crescimento econômico? Isso quando não tivermos mais uma estrutura demográfica de força jovem, nossos insumos ambientais e a confiança em nossas relações interpessoais. 

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